O adeus silencioso dos italianos
- Comunicação da Solving
- 24 de mar. de 2020
- 2 min de leitura

Imagina ter a sensação de que as pessoas ao seu redor estão morrendo. Entre elas estão parentes, amigos, vizinhos, conhecidos, e você sequer tem a possibilidade de despedir-se pela última vez. Essa tem sido a realidade de moradores de várias cidades italianas localizadas na região da Lombardia, na Itália, que até o momento detêm 4 mil das quase 7 mil mortes que ocorreram no país.
Além das estatísticas proporcionais que superam até a China, país onde surgiu o vírus, o que tem chamado a atenção do mundo para os italianos é o sofrimento presente na impossibilidade de despedir-se dos entes queridos. Ao detectar a doença, muitos são isolados de seus familiares e internados em hospitais. Em alguns casos, as famílias recebem ligações ou chamadas de vídeo de algum funcionário do hospital, que utilizam a tecnologia para facilitar o momento do adeus entre os pacientes e seus entes queridos. Porém, na maioria das vezes, a partida é silenciosa, sem um último “eu te amo” ou “fica bem” daqueles que conviveram a vida toda.
O fato é que quando a famosa e triste procissão de carros do exército passa pelas ruas de Bérgamo (província que registra mais mortes na Itália), transportando corpos para crematórios vizinhos, as famílias não sabem necessariamente se entre eles estão os seus entes queridos. É praticamente uma geração inteira de uma cidade impedida de prestar homenagens e uma cerimônia de despedida para os seus familiares. De acordo com psicólogos e especialistas, momentos de despedida são essenciais para vivenciar o processo de luto. Quando isso não acontece, especialmente em grandes tragédias, as sequelas podem ser ainda maiores e mais duradouras.
Solidariedade em tempo real
O que tem feito a diferença em cidades como Bérgamo é a disponibilidade das pessoas em doar-se pelos outros. O prefeito da cidade disse há alguns dias, em entrevista, que a cidade está unida pelo luto e a solidariedade coletiva. Um dos casos mais incríveis é do Fra Aquilino Apassiti, padre capelão do hospital Giovani XXIII (o maior da cidade). Mesmo com quase 90 anos, o religioso tem se esforçado para distribuir extrema unção para os doentes e se dedicado a fazer ligações para seus familiares, e assim promover um momento de despedida.
Outra ação foi a campanha “o direito de dizer adeus”, que mobilizou moradores a comprar centenas de tablets e distribuir em hospitais da cidade, com o objetivo de possibilitar chamadas de vídeo e um momento, ainda que virtual, de dar adeus a quem se ama.
Profissionais de psicologia também tem incentivado àqueles que não tiveram a oportunidade de contato com os seus entes, em criar memoriais escritos, fotográficos, virtuais, para simbolizar homenagens e atos de despedida. Ainda que seja um adeus silencioso, despedir-se é importante para quem precisa continuar a vida por aqui.
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